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segunda-feira, 21 de novembro de 2016
sábado, 19 de novembro de 2016
Ponto... (e Vírgula)
Como vocês devem calcular, durante os últimos meses, não quis aproximar-me de ninguém intencionalmente. A vida tem várias direcções e nós... Nós, às vezes, teimamos, (e muito), em andar em contra-mão. Acho, que esta intenção, (dolorosa e injusta para alguns), não foi mais do uma consequência https://www.iq-trading.com.br/olymp-trade-apk-download-for-android natural do que me apareceu pela frente: um ponto final. Os pontos finais ameaçam os impulsos naturais. Foi uma consequência. E foi um erro. Um erro relativamente caro para quem passa a ver os dias corridos a vírgulas... e a reticências.
Eu não quis aproximar-me de ninguém intencionalmente porque achei, do fundo do coração, que não tinha nada para lhes dar nem nada para lhes dizer. Não foi por outra razão senão essa. No inicio, eu pensava que deviam ser os outros a dizerem-me coisas. Que era a derradeira oportunidade para colocarem os pontos finais nas frases inacabadas antes que eu não conseguisse acrescentar mais uma vírgula. Pensar assim também foi um erro. Aquilo que se quer ouvir, de algumas pessoas, quando se entra nestas rotundas inesperadas, já foi dito antes. Nos dias em não existiam outros recursos pontuais forçados. Por isso, por experiência própria, não vale a pena esperar o que já veio [e o que nunca virá].
Eu não quis aproximar-me de ninguém porque sentia que não ia ser capaz de salvar ninguém. Eu não quis aproximar-me de ninguém porque eu não sabia se me ia salvar a mim... Como é que eu podia prometer isso? Como é que eu podia ajudar a recolher os cacos de alguém quando eu própria não sabia por onde andavam os meus? Parecia-me impossível. Inexequível. Demasiado arriscado. E ainda assim, houve duas ou três criaturas que não arredaram pé. Que assistiram à minha descida aos infernos com a coragem que lhes foi possível... E que nunca exigiram nada em troca. E a quem os meus silêncios cheios nunca incomodaram. Como me apetecia dizer-lhes que ia correr tudo bem... mas era tão mais fácil escorraçá-los do quarto do hospital, com as lágrimas nos olhos, e continuar impune à dor que lhes causava. Odiei-me, várias vezes, por isso.
Houve uma chata, em particular, que nunca me deixou [mesmo quando lho pedi... e olhem que pedi muito]. Manteve-se estóica em quantas partas dividida. E sem eu lhe dar nada troca, dizia-me o muito que eu lhe dava. Estas vírgulas que a vida vai acrescentado a pouco e pouco na(s) nossa(s) estória(s) ensinam-nos muito a olhar para o lado. Especialmente para o outro. E em última instância, para www.iq-trading.com.br/axie-infinity-game-overview nós próprios... De uma forma como nunca antes tivemos oportunidade de o fazer. Curiosamente, esta mulher que só quis ser minha amiga, e não minha médica, e com quem partilho o nome, (vejam-me só isto!), já tinha cá estado na Terceira, há uns anos atrás, sozinha. Entre outras coisas, contou-me de um beijo perdido numa esquina que ficou por dar... E de ter subido os degraus da Sé, [de Angra], para enterrar a amalgama de sentimentos que lhe corroíam o peito em jeito de confissão.
Como esta terra encerra tanta vida. É incrível, não é? Entre os que vão e os que vem, e ainda que continue a ter que escrever com vírgulas e reticências pelo meio, eu diria que o nosso encontro já estava marcado. Aconteceu quando tinha que acontecer. Não posso devolver-te os beijos que perdeste. Não posso salvar-te dos cacos em que vives. Não posso reconstruir-te. Agora não. Não posso ser nada mais do que aquilo que sou. Agora. Mas posso assegurar-te que o que levaste daqui te acompanhará sempre. E te fará sempre forte no meio da dor. Quem se perdoa a si, não merece castigo.
sexta-feira, 18 de novembro de 2016
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
Nos Corredores
Como vocês têm lido por aqui, ultimamente eu não tenho saído muito casa... e não, não é por causa da careca [eu até gosto de passeá-la]. E a careca... A careca às vezes funciona como um escudo porque nem toda a gente se atreve a chegar perto. Apesar de vos ter dito logo no inicio, quando a bomba caiu, que tinha esta ideia de um cancro nunca ser (só) nosso, acho que há um momento em que ele tem de nos pertencer mais a nós do que aos outros. Esse momento pode dar-se, efectivamente, ao inicio ou ao longo do processo, (dependo de cada pessoa), mas parece-me que é especialmente mais sentido quando a possibilidade da dor física começa a aligeirar-se.
É essa possibilidade a razão de todos os medos (e de todos os receios). E é por causa dela que evitamos perguntas [quando as conseguimos evitar]. Ontem, isso não aconteceu. Não consegui fugir à casualidade inevitável. Fui a uma loja [tenho fugido das grandes superfícies para evitar as gripes, vírus e viroses]. Uma das funcionárias, com carinha para vinte anos, deve ter iq-trading.com.br/iq-option-x-apk-download reparado no meu andar perdido pelo meio dos corredores, e começou a "perseguir-me" sem noção da distância de segurança que eu [tanto] aprecio e que considero de bom tom. [se as aproximações antes já eram difíceis, agora são ainda mais estranhas da forma como ocorrem]. Como estava frio, (a temperatura desceu um pouco aqui nos Açores), levei um lenço na cabeça... Caso contrário, tinha passeado a careca como sempre a passeei até aqui. Interrompi a marcha. E ela parou também. Virei-me. Ficámos frente a frente. "É cancro?" Perguntou, sem aviso e sem cerimónias paliativas, como quem tira um penso de raspão.
Sinceramente não soube o que lhe havia de responder. É. Foi. Não sei o que é. Não quero que seja. Não quero que volte a ser. Mas ela continuava a olhar-me com a coragem que poucos têm. "A minha teve há 13 anos na mama". "E então?". "Faleceu". Senti-me na obrigação de verbalizar o que se calhar nucna tinha verbalizado até então, de uma forma tão assumida: "É leucemia". "Ah, o meu avô também já teve". "E então?" "Também já faleceu... e tenho um tio que também teve cancro do pulmão". Não sei, na realidade, quem é que não teve, (em atenção), as cerimónias paliativas que pertencem ao protocolo nestas situações... Eu não sabia responder-lhe. Como responder. Nem tão pouco perguntar-lhe mais do que um "então?". Vi uma criança olhar-me nos olhos, com os olhos de quem já viu muito mais do que eu.
"Mas a senhora está com boa cara". Sorri-lhe. Em compaixão. "Ah isso foi porque pus um bocadinho de maquilhagem, e se calhar exagerei porque já não estou habituada". "Não, não é disso. São os seus olhos. Eu vejo nos seus olhos". Não deixam de ser curiosos estes encontros inesperados.. e a forma, indecifrável, como as pessoas entrem e saem das nossas vidas. Oxalá que não te enganes, minha menina... Oxalá que não te enganes.
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
Admirável Mundo Novo
Para algumas pessoas a quimio tem um cheiro específico. Para mim nunca teve. E (ainda) não tem, se bem que acho que ao longo deste processo todo fui perdendo os sentidos. [não acho, tenho a certeza]. Perder o cabelo nunca me fez confusão. O bom dos hospitais é que não têm muitos espelhos (a não ser os que estão ao nosso lado). As mãos e as unhas despidas de cor, essas sim, causaram-me estranheza. Olhava muito para elas. Sonhava com o dia em que as iria poder pintar. É através delas que (re)começo a cheirar o mundo... E sabe, extraordinariamente, bem.
O cheiro das mandarinas azedas nas mãos. Que saudades. Que surpresa. Os restos de chocolate negro derretidos nos dedos. O cheiro a verniz, incolor, e sem formaldeído. Não cheira muito, mas cheira o suficiente para trazer boas recordações. O cheiro da alcatra a fumegar, em cima da mesa, e da massa sovada ensopada no molho. Sem comparação. O cheiro da erva, depois do orvalho [é impressionante como a terra cheira a vida depois de molhada, não é?]. O cheiro do café. Sempre foi um dos meus preferidos. O cheiro das manhãs friorentas e da lama esbatida no alcatrão da canada. O cheiro da comida que não se podia comer durante este tempo todo. São tantas as coisas e as sensações de que estive privada que não as consigo enumerar todas...
É estranha não é, a rapidez com que desvalorizamos os sentidos. A imponência com que nos obrigamos a não sentir. E de repente, um dia, damos por nós a não querer lavar as mãos só para poder despertar o corpo em que habitamos com o cheiro de mandarinas azedas... Ainda bem que os (re)começos nos trazem coisas antigas com cheiros novos. Ainda bem que os (re)começos nos fazem ser crianças outra vez. Ainda bem que os (re)começos nos fazem sentir coisas, mesmo que a gente tenha medo de as sentir. Ainda bem que os (re)começos depuram o que não era sensato nem tão pouco importante. Ainda bem que os (re)começos nos aproximam da possibilidade de nos podermos apaixonar de novo. Ainda bem que os (re)começos, mesmo os momentâneos, existem e valem a pena.
Acho que estas paragens forçadas a que a vida nos obriga a fazer, de tempos a tempos, servem também para nos aproximarmos de nós próprios. Da nossa essência. Retiram-nos o peso das capas com que nos fomos escondendo ao longo do tempo. Dão-nos a possibilidade [e a coragem] de arrancarmos do zero, conhecendo o que (já) conhecemos. E isso... isso é espantoso quando acontece. Quando os médicos me disseram "já podes comer de tudo", a primeira coisa de que eu tinha mais saudades era de dar uma dentada numa maçã. Sentir a casca estalar. Peguei na maçã duas ou três e não fui capaz. [na verdade ainda não sou]. É difícil ir abandonando os costumes forçados a que estive submetida... Por outro lado, gosto deste namoro demorado. No dia em que eu lhe der uma dentada vai ser uma festa. Vêem como é fácil arranjar, todos os dias, (bons) motivos para comemorar a vida? Só precisamos, efectivamente, de sentir mais... e de não nos esquecermos que (por enquanto) estamos vivos.
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